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sexta-feira, 24 de julho de 2015

O FESTIVAL DE BESTEIRA QUE ASSOLA O PAÍS

Sergio Porto
Stanislaw Ponte Preta era o pseudônimo adotado por Sergio Porto (1923-1968), jornalista, escritor e compositor (quem não se lembra do memorável “Samba do Crioulo Doido”, título que hoje seria alvo de campanhas ‘politicamente corretas’? Ouça abaixo uma ótima versão dos Demônios da Garoa).


Stanislaw publicou dois volumes do “Febeapá” (1966/1967) - título que tomo emprestado por extenso neste artigo -, uma coleção de besteiras então em voga pelo país, no pós-golpe de 64. Sergio morreu aos 45 anos, pouco antes do recrudescimento da censura e do regime pelo AI-5, e fez de suas troças bem-humoradas ao besteirol nacional de então uma arma camuflada contra a ignorância e a manipulação de informações pela ditadura e seus filhotes. No fim do mesmo ano de sua morte, como homenagem, amigos de copo e caneta (Tarso de Castro, Sergio Cabral e Jaguar) fundaram o histórico "O Pasquim", evocando o tabloide "A Carapuça", de Sergio - que era conhecido boêmio e também antológico autor de frases, como a lapidar:

Febeapá vale ser lido, quase idoso de meio século, especialmente durante esses novos tempos em que o desfile de erros, frases e absurdos linguísticos e políticos tem agredido nossos olhos e ouvidos. Minha homenagem serve como recomendação de leitura, extensiva ao divertido “Tia Zulmira e Eu”. Famosa também era a seleção anual de vedetes em "As certinhas do Lalau", do diário Última Hora. No Febeapá, Stanislaw narra casos hilários, como o de um delegado de BH que mandava prender quem gritasse mais de três palavrões em um estádio, durante uma partida de futebol.

Sófocles (destaque à esquerda, em cima) e uma encenação
Prudentemente, o consumo de vodca foi proibido por um secretário de segurança mineiro para evitar qualquer costume comunista no Brasil. E, pasme, mandaram prender um tal de Sófocles (nascido quase 2.500 anos antes) por considerarem sua peça teatral subversiva. Febeapá, do Stanislaw, é uma coleção de absurdos ditos ou escritos, compilados e organizados com grande humor.

Palácio das Indústrias, então sede da Prefeitura
Hoje, tenho urticária quando leio ou ouço certas tolices de escola primária. Recuso-me a falar “presidenta”, mesmo se estendessem também a flexão a “gerenta”, “superintendenta”, se por decreto fosse possível mudar a ortografia brasileira - assunto já por demais (de)batido. Luiza Erundina, após tomar posse na Prefeitura de São Paulo, em 1989, mandou trocar todas as placas de "Gabinete do Prefeito", na portaria e dentro do Palácio das Indústrias, corrigindo-as para "da Prefeita". Certíssimo: prefeito, governador, deputado e senador flexionam, sim senhor (ou senhora).

Lucy: hominídeo
Quase tive catapora dia desses ao ouvir “mulher sapiens”, quando a palavra latina homo se refere a indivíduo da espécie humana, e não ao sexo masculino, o macho. Esse homo latino nada tem a ver com macho, e sim com a raça humana, daí ser hilário alguém dizer "mulher sapiens".



EUA: arresting a homicidal
   O que me faz arrancar os cabelos é ouvir falarem “feminicídio” (tem até Projeto de Lei aumentando a pena para homicídio de mulher que usa esse nome!). Homo vem do grego homós, significando “o mesmo, igual, comum”, nada tendo a ver com o homem-macho! Se sairmos das línguas latinas, que trouxeram o homo do grego, fica mais fácil entender: em inglês existe man para homem, e homicide para homicídio, nada a ver com homem. Em alemão, homem é Mann, e homicídio é Mord. Igualmente, “homólogo” é “concordante", "a mesma coisa”, e homocêntrico é sinônimo de concêntrico, “que tem o mesmo centro”. Nada de “homem”! Por fim, homocinética é uma peça mecânica cujas partes fazem movimentos iguais, nada a ver com filme ou homossexual.

Honoré de Balzac
Nesse ritmo de verdadeiro estupro linguístico, em breve vão querer dizer “feminissexual”, para se referirem à mulher homossexual. Nas demais línguas latinas, o francês se aproxima do português, com homme e homosexuel. Já em italiano existem diferenças, a exemplo de uomo e omossessuale.  E “homofobia” é aversão por quem é do mesmo gênero, seja masculino ou feminino. 


Mais: homoafetivo(a) é o que tem afeição por (ou se une a) 
pessoa do mesmo gênero, seja do sexo feminino ou masculino. Quando Balzac (1799-1850) escreveu La Comédie Humaine referiu-se a toda a humanidade. Mulheres e homens.

Rubens (1577-1640): Adão e Eva
Essa visão promíscua e superficial da nossa língua, além de levantar ilações absurdas sobre machismo onde ele não existe, leva ainda a outras aberrações. Há quem questione o porquê de se falar “pátria” e não “mátria” (machismo, devem pensar os órfãos de melhores estudos). Pois pátria vem do latim pater (terra, solo), e só passou a significar país na Idade Média. Pelo contrário, é palavra feminina, nada tendo a ver com pai ou homem. “Patrimônio”, da mesma raiz, vem de terra, propriedade, ideia da antiguidade, e nada tem de machismo: as propriedades de um homem e ou de uma mulher são seu patrimônio. As palavras latinas pater e mater têm o mesmo sentido de Adão e Eva em hebraico, Adamah e Avaah, que significam terra e vida (a terra fertiliza a vida, daí os nomes do primeiro casal sobre a terra, simbolizado nas antigas escrituras).

Reedição do Código Civil de 1916
O antigo Código Civil chamava “pátrio poder” (em latim, patria potesta) o que hoje se chama “poder familiar”, direito que é exercido tanto pelo homem quanto pela mulher – ou apenas um deles, conforme a causa da separação, caso haja risco para a integridade física ou psicológica da criança. A perda desse direito é decretada em juízo juntamente ou após a perda da guarda do menor por uma das partes.  A origem arcaica da expressão é dos tempos em que a criança era uma espécie de propriedade dos pais. Aquele “pátrio poder” nada tinha a ver com o sexo de seu titular, a justiça podia concedê-lo em favor da avó da criança, caso julgasse que nenhum dos genitores teria como exercê-lo, ou por risco iminente ao infante - e avó não é pai nem mãe, para lembrar o óbvio ululante!

Portugal, terra patriota, tem algumas particularidades inteligentes em sua rica língua de mãe-pátria (que bela expressão!), o termo foi trocado em 2008 por “responsabilidades parentais”. Pois patriota é quem ama sua pátria, terra, torrão, solo. Sejamos patriotas e respeitemos o idioma de nossa mãe gentil: 

Pátria amada (no feminino!), Brasil!


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