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sexta-feira, 8 de abril de 2016

GÊNESIS, DILÚVIO, NOÉ E O FUTURO DO BRASIL

Parece que as coisas andavam mal na Terra, bastante mal. Os homens haviam passado os limites do permitido. Desonestidade, perversão, iniquidade, desavenças, maldade. Como primeira punição, Deus ensaiou de limitar a vida humana a apenas 120 anos. Os malfeitos do homem na terra tanto incomodaram ao Pai que ele achou que era hora de uma solução radical: exterminar toda a humanidade, e com ela os animais, pequenos ou grandes, as aves, répteis (Gênesis, 6:7). Enfim, toda a vida na terra.

Noé (Noach, do hebraico), porém, era um homem correto, andava com Deus no coração (era dele descendente direto, pois que, conforme o sagrado Pentateuco, era filho de Lameque, este de Matusalém, filho de Enoque, que viera de Jarede, cujo pai foi Sete, filho de Adão, e este de Deus). Constituiu família honrada, com mulher e três filhos, Sem, Cam (“Cham”) e Jafé. De Sem, “pai da raça branca”, descenderam os chamados semitas, que foram os assírios, aramaicos, fenícios, árabes e hebreus, os principais. De Cam, “pai da raça negra”, vieram os camitas, que compreendiam os povos e tribos do Saara setentrional às Ilhas Canárias, do norte da África ao Sudão e Egito, da Líbia ao Chade. Finalmente, de Jafé, “pai dos persas e indianos”, descenderam os jaféticos, que alguns chamam jafetistas.

Árvore de gofer
Porém, crendo na pureza de Noé, Deus confidenciou-lhe que um dilúvio sem proporções haveria de cobrir a terra até que todos os seres vivos desaparecessem, e que ele, Noé, deveria construir uma embarcação, e foi cuidadoso até nas instruções de como fazê-lo, para suportar tanto tempo durante o monumental castigo: “você, porém, fará uma arca de madeira de gofer; divida-a em compartimentos e revista-a de betume por dentro e por fora” (6:14).

Reconstituindo a arca
O cuidado divino chegou às dimensões necessárias para a obra: “faça-a com trezentos côvados (135 m) de comprimento, cinquenta (22,5 m) de largura e trinta (13 m) de altura” (6:15). Foi criterioso até nos detalhes do que tinha em mente, já que deveriam suportar a longa a jornada: uma embarcação de dimensões jamais vistas (cerca de 8.900 m²). Detalhou o teto, com as devidas medidas, a rampa e os três andares da nave (6:16).

Noé prometeu a Deus total obediência, e seguiu à risca as instruções recebidas. Temendo o fato de que todos os seres vivos sobre a Terra pereceriam, Noé agradeceu o Senhor e chamou sua esposa, três filhos e suas mulheres, que com eles começariam o repovoamento do mundo (6:18). Prosseguiu escolhendo casais de animais, para que com ele sobrevivessem. 

“De cada espécie de animal grande e de cada espécie de animal de pequeno porte que se arrasta no chão virá a você um casal, para que sobrevivam com você” (6:19). E foram sete casais de cada espécie. (Na Cabala judaica, sete é o número dos que gostam de mudanças e viagens. Os números do Gênesis – aliás, como tudo o mais no Antigo Testamento -  têm um significado, e eles se repetem várias vezes nas escrituras. A Cabala é pródiga desses códigos).

Noé tratou de acomodar na arca suprimentos que mantivessem todos vivos, durante o tempo necessário à sobrevivência ao dilúvio, de acordo com o que Deus lhe havia determinado (6:22). O Pai ordenou-lhe, também, que cuidasse de todos os detalhes, pois o dilúvio duraria nada menos do que quarenta dias e quarenta noites, até que desaparecessem da Terra “todos os seres que eu fiz” (7:4). E Noé tinha paciência, pois já tinha seiscentos anos de idade, e aquilo seria um sacrifício passageiro (7:6).
Déluge (óleo de Konstatinovich, 1864

Em sete dias, como determinara Deus, um volume enorme de água se abateu sobre a Terra. Os céus se abriram despejando o dilúvio, que terminaria em cento e cinquenta dias (na Cabala, o somatório dá 6, número da harmonia, do equilíbrio e da justiça). As águas foram se avolumando e, conforme previsto, a arca começou a elevar-se da Terra, flutuando (7:18). Todas as montanhas, até as mais altas, ficaram encobertas, só se via água. E tudo o que tinha “fôlego de vida” morrera (7:21).

O Ararat
“No décimo sétimo dia do sétimo mês - na Cabala, somando seis (1+7+7 = 15 = 6), número da vitória, da superação e do futuro de prosperidade, a arca repousou sobre o Monte Ararat” (8:4). Deus então refletiu: "Nun­ca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais destruirei todos os seres vivos como fiz” (8:22).

Uma vez repovoado o mundo, sem mais ameaças de destruição, coube aos homens que desembarcaram da arca reedifica-lo, mesmo que, conforme o texto do Gênesis do Pentateuco, Deus tenha dito que “o coração (do homem) é inteiramente inclinado para o mal desde a infância”. Cito, outra vez, meu romance favorito do Machado de Assis, Dom Casmurro, em seu capítulo IX, “A Ópera”, um raio de lucidez e conhecimento da virtù: Deus escreveu a partitura, mas quem rege é o diabo. (E não é o que os descendentes de Noé, então, fizeram tudo mais uma vez?).

Se o leitor está se perguntando onde entra “o futuro do Brasil” do título deste artigo, sinceramente não sei. A quem será permitido embarcar na Arca? Os escolhidos, os justos, que se preparem para navegar no dilúvio, até que ao fim do prazo baixe a água. Até porque, mesmo que se lute pelo melhor, o futuro “adeus” pertence, reinventando o dito popular.


[Textos do Gênesis extraídos da Bíblia de 1681 de João Ferreira de Almeida, primeira tradução dos cinco idiomas originais diretamente para o português]

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