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sábado, 11 de julho de 2020

UM PERSONAGEM EM BUSCA DE SEUS DIPLOMAS

Fefierj, na Praia do Flamengo

No início dos anos 1970, cursei Licenciatura em Música na Fefierj (Uni-Rio). A escolha se deveu à oportunidade de estudar com Hélio Senna e Silvio Mehry, ambos formados pelo Conservatório de Moscou, e Marlene França, ex-aluna de Ginastera. Também tive liberdade para escolher o professor de instrumento de minha preferência. Certo dia, uma porta se abriu para mim nos EUA, e corri para Boston.
New England Conservatory
Estudei por um ano no Berklee College, enquanto me preparava para ingressar em minha opção primeira, o New England Conservatory, conhecido como uma das três melhores instituições dos EUA. (Berklee ajudou-me na parte de escrita e arranjos para jazz, foi uma grande vivência). Preparei-me ao máximo, e obtive por prova um Financial Aid Award do New England, fundamental à minha sobrevivência. Lá, estudei contrabaixo por poucos meses com William Rhein, até o encontrarem morto em circunstâncias sinistras - mas previsíveis. Fiz prova para ingressar em uma das três vagas na classe especial de Edwin Barker, solista da Sinfônica de Boston, e passei a estudar ainda mais.
Formei-me após um pré-recital com banca e um recital público externo. Surgiu então um convite para trabalhar no Brasil em uma organização sob a liderança de um grande nome, proposta irrecusável. Decidi-me e comecei a organizar a papelada. Em uma viagem ao Brasil estive no MEC, no Rio, e a funcionária responsável pela revalidação de diplomas do exterior me fez uma série de exigências, como um documento, à parte do diploma com a assinatura do presidente da entidade, no qual deveria constar uma confirmação da autenticidade do título (pelo mesmo presidente que assinara o diploma anexado!) Ambos deveriam ser colados com um selo inviolável com a marca d’água da instituição e outra de um “notary public” – o correspondente a um tabelião, prática inexistente nos EUA. Sem resistir, o presidente do NEC deixou escapar: “o país da fitinha vermelha”.
(Foto: qconcursos)
Retornando ao Brasil, segui as instruções do MEC e da burocracia. A papelada teve tradução juramentada, carimbos e selos de acordo com as normas do Ministério. Para encurtar os dois ou mais anos previstos, protocolei o pedido de revalidação na Unicamp, fugindo do MEC. Um professor visitante da Universidade de Indiana, Mel Carey, chamado para atestar a qualidade do curso, resumiu: “fabulous!” Não tardou a burocracia apontar que faltava em meu currículo escolar um semestre de Problemas Brasileiros, que a ditadura, já agonizante, havia travestido da velha Educação Moral e Cívica. Inscrevi-me, fiz o paper  final da disciplina e, após quase três anos de via crucis burocrática, em 1985 recebi a chancela final, assinada pelo reitor da Unicamp, então Aristodemo Pinotti, número devidamente carimbado.
USP (jornal.usp.br)
Ingressei como professor na USP em 1988: tal qual os outros, eu só tinha um diploma superior. Logo, a Reitoria publicou no Diário Oficial o meu ingresso na carreira, dando-me até seis anos para apresentar o diploma de mestre. Fiz duas disciplinas de pós-graduação como aluno especial que foram aproveitadas no curso. Ingressei oficialmente na área de Artes Plásticas, uma vez que ainda não havia mestrado em música na USP. Preparação de dissertação, o temível exame de qualificação e finalmente a defesa pública – ambas perante uma banca já no Departamento de Música, com mestrado na área já oficializado. Concluí o curso em Artes Plásticas: sete disciplinas de três horas semanais cada - o tal “superdoutorado”, enquanto um candidato a doutor tinha o ‘privilégio’ de concentrar-se a fundo no trinômio pesquisa-tese-defesa e a exigência de apenas quatro disciplinas.
Após breve recesso, vi que teria de enfrentar o doutorado, desta vez em Artes Cênicas. ainda não existia o curso na Música. Disciplinas, muitas horas de trabalho e um projeto de pesquisa bem mais amplo, com mais exigências e bem mais  árduo: muita bibliografia, correspondências, entrevistas, idas a bibliotecas, procuras por fontes, etc. Tudo isso para um certo dia, material pronto, submeter-me à decisiva banca de qualificação. Um semestre depois, preparando a oratória e estudando com muito afinco, imprimi os dez exemplares, cada um com quase trezentas páginas, e fui à banca em audiência pública com a participação de convidados estranhos ao corpo docente da Universidade. Foi uma longa sessão de perguntas, questionamentos, olhares clínicos e pequenas armadilhas, mas estava preparado para a ocasião.
Vinte e um anos depois da expedição do diploma de doutorado, sempre lendo e pesquisando, achei que talvez fosse hora de um grande alto, o pós-doutorado, ou simplesmente pós-doc. A ideia me fascinou, mesmo sabendo do trabalho árduo que teria pela frente: informações sobre minha atuação profissional e acadêmica, publicações, tudo desde o início da carreira até os dias de hoje, qualificado e quantificado. Softwares para contabilidade de citações de meus trabalhos em livros e produções acadêmicas, detalhes de toda uma vida. E um projeto em que se privilegia a pesquisa no mais alto nível, algo que possa ser útil ao país, à comunidade acadêmica e à pesquisa em geral.
Adicionar legenda
A obtenção de títulos verdadeiros e reconhecidos no Brasil não é brincadeira. Não é um pendurar de papeis sem lastro e emoldurados na parede e o decorar do currículo com títulos para fazer bonito. Como dizia meu professor nos EUA, nada é feito para ser fácil, muito pelo contrário. Mas há um caminho a ser evitado: falsear e plagiar são habilidades fúteis e traiçoeiras: é como armar uma bomba-relógio que um dia lá na frente vai estourar na sua mão.
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Para todos os programas: youtube.com/autrandourado
Livro (encomenda): Memórias de Isolamento - Saudosos velhos Amigos: memoriasdeisolamento@gmail.com


sábado, 14 de setembro de 2019

FEFIERJ: UNE E OSSOS. UFRJ, ORIXÁS

UniRio

Comecei meus estudos universitários de música no início dos anos 1970, na Fefierj (Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro), hoje UniRio. No corpo docente, professores como Hélio Sena e Sílvio Mehry, ambos com sólida formação pelo Conservatório de Moscou, e Marlene França, ex-aluna de Ginastera.  No andar de cima, as Artes Cênicas, laboratório do melhor teatro do século: Arrabal, Ionesco, Brecht.
Fefierj, a "joaninha" e o giroflex
Na entrada do prédio – de que falarei adiante -, tempos duros como os cabos das baionetas, às vezes a parada de uma “Joaninha” (coitado do simpático besourinho rubro-negro, fusca da PM com uma só luz giroflex). Volta e meia, revista de alunos e professores, preferências recaindo sobre livros de capa vermelha. Nada que coadunasse com o espírito que mantínhamos: livres para estudar e criar. Em uma aula de harmonia ao piano, lembro-me de ter apresentado um exercício para a profa Marlene França em que usei um coral de Bach. Movi vozes meio tom para cima e para baixo, troquei acidentes e por aí vai. Uma loucura dissonante, mas ela, após tocá-lo no piano, cenho franzido, ao invés de me dar um pito levantou-se com um enorme sorriso – o que mais esperar de uma compositora contemporânea?
UNE, 1947. A garra feminina
De volta ao prédio: o nome Fefierj surgiu oficialmente após a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975. Em 1979 passou a chamar-se UniRio, parte da Uferj (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Um prédio dos anos 1930 com apenas três andares que carregava uma sina, um carma: fora a sede da proscrita UNE (União Nacional dos Estudantes)!
O prédio, incendiado durante o golpe
Faço um corte à maneira dos filmes nouvelle vague, tão ao nosso gosto, à época, para falar da UNE, e depois retornar à Fefiej. Fundada em 1937, teve participação em todos os movimentos sociais do Brasil. Na presidência, entre 60 nomes, José Serra, cujo mandato foi encerrado com o golpe de 1964, Luís Travassos, eleito em 1968 e, líder estudantil de peso,  Aldo Rebelo, político que foi ministro em vários governos. O prédio, número 132 da Praia do Flamengo e símbolo da resistência, foi invadido e metralhado no dia do golpe, 1º de abril de 1964, e logo após incendiado. Enquanto isso, soldados e milícias radicais tentavam queimar o prédio da Faculdade de Direito com os estudantes em seu interior, mas foram impedidos pelo heroico capitão Ivan Proença, que arriscou sua vida entrando no imóvel em meio a tiros e bombas para salvar os que lá estavam, obrigando seus subordinados à imediata suspensão da iminente carnificina.
O malogrado congresso de Ibiúna:captura geral
Durante o período da ilegalidade determinada pela lei ‘Suplicy de Lacerda’ (1964-79), a representação estudantil foi pulverizada em diretórios acadêmicos bem vigiados nas universidades. Mas a Une continuou clandestina, e, por isso mesmo, cada vez mais contaminada por grupos radicais. Um desastre: o 30º Congresso, com 5 mil estudantes em Ibiúna, 1968, foi desbaratado pelo número extravagante de pãezinhos e litros de leite encomendados na cidade do interior paulista. Organização sem planejamento, todos foram presos, inclusive os líderes Jean-Marc, José Dirceu, Vladimir Palmeira e Travassos.
Adicionar legenda
Depois, assume então a presidência Jean-Marc, que, levado à prisão, deu lugar a Honestino Guimarães, em 1973. Igualmente preso e, como era frequente, declarado ‘desaparecido’ (leia-se: morto). Naquele tempo, eram todos estudantes idealistas, rebeldes como qualquer jovem saudável, mas aos poucos, muitos, foragidos, foram seduzidos pela luta armada do VAR, VPR, MR-8 e outros. Depois dessas décadas e voltas e reviravoltas, formalidades e proscrição, há quem seja ingênuo o suficiente de pensar que o simples ato de retirar da UNE a prerrogativa de emitir e cobrar carteirinhas de estudante  poderia afetar  (e, sabe-se lá, neutralizar)  a organização. 
Depois do ‘corte à francesa’ para falar da UNE, à Fefierj. O diretor-interventor era o general Jayme Ribeiro da Graça, egresso do SNI (Serviço Nacional de Informações, órgão da ditadura). Agentes e alcaguetes infiltrados nas salas de aulas no Rio eram os mais calados, discretos e misteriosos, e não faziam anotações. Só com o interventor eu tive problemas, e de ordem musical, a despeito da ignorância dele em artes - achava ‘inferiores’ os instrumentos e a música indígenas. Cheguei a ser ameaçado de ‘virar flauta’, após discordar dele sobre a ‘inferioridade daqueles instrumentos primitivos feitos com ossos’.
 
Escola  de Música da UFRJ
45 anos depois, rebobinam o filme, mas às avessas: Semana passada (O Globo, 5/09/19), ressurgiu travestido e com força o mesmo preconceito. Na conceituada UFRJ, estudantes de certa seita religiosa autodenominada Igreja recusaram-se a cantar as Toadas de Xangô (‘orixá das artes’), do petropolitano Guerra-Peixe. Um dos alunos disse “e se eu ‘receber’ (obs.: ‘incorporar’) alguma ‘entidade?’” A professora Andrea Adour tentou explicar, mas os novos radicais, que hoje se multiplicam como gremlins, não compreenderam. Villa-Lobos também compôs sobre crenças indígenas e religiões afro (Xangô), tal como Francisco Mignone (Babaloxá), meu amigo Ernani Aguiar (Cantos Sacros para Orixás), José Siqueira (Oratório Candomblé) e Camargo Guarnieri (Macumba para Pai Zuzê, com letra do Drummond). Na MPB, Caymmi (Oração de Mãe Menininha), Sérgio Ricardo (“mandinga da gente continua”), Caetano (“Xangô manda chamar Obatalá Guia”), Edu Lobo (“ê meu irmão me traz Yemanjá pra mim”), Vinicius (Canto de Ossanha). Um coro universitário que não canta as raízes de seu povo leva a música para longe de sua nação!
A direção da Escola de Música da UFRJ não é de generais, mas a história é ingrata: alunos inverteram seu papel no tabuleiro, encarnando a xenofobia e a intolerância do antigo interventor da Fefierj. Sinal dos tempos, um retrocesso com troca de papeis. Farta matéria para cientistas sociais!

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM

Em minha primeira infância não tinha havido ainda o golpe de 64. Veio com meus 11 anos. Na verdade, fora experiências do grêmio escolar, eu só vim a nascer aos 15 anos, como na música “aos 15 anos eu nasci em Gotham City”, do Jards Macalé. Naquele mesmo ano, morria assassinado no restaurante Calabouço o estudante Édson Luís, de 19. Disse à minha mãe que eu iria ao cortejo, e ela até resolveu ir junto. Passando na rua que leva ao cemitério São João Batista, a multidão impressionava. Veio do centro, com o refrão “mataram uma criança, poderia ser seu filho”.
Artistas como Odete Lara, Eva Wilma, Norma Bengell e Ruth Escobar nos 100 mil
No colégio, vi os padres paramentados indo à passeata dos 100 mil, juntando-se a atores, intelectuais, estudantes, religiosos, todos os que se sentiam amordaçados pela censura e pelas graves violações, como prisões sem sentido, torturas e desaparecimentos. Havia muito medo. Meu pai, por ter trabalhado como porta-voz de JK, mais ainda, porque os intelectuais do gabinete estavam sendo presos. E vieram prisões de amigos e conhecidos como Hélio Pellegrino, Ênio Silveira (preso oito vezes) a turma do Pasquim e muitos outros. No colégio, resolvemos fazer um festival de MPB, e até lá enfiaram a censura prévia. Não me cortaram a música, mas uma frase singela: “um grito vivo de verdade”. Por quê? Meu pai, receoso de chegar a sua vez, eliminou livros de casa e pediu que eu sumisse também com minhas leituras teóricas dos filósofos.
A 'Joaninha' e os policiais
Entrando na faculdade, juntei-me ao pessoal mais inteligente, do diretório, e logo vi serem presos Alexandre, que voltou com o peito queimado de cigarros, minha amiga Mônica Tolipan e Luísa. Por quê? Eu e meus irmãos, com meu tio, chegamos a ser parados e espremidos no muro com fuzis, como fôssemos bandidos. Mudei de faculdade, fui para a excelente FEFIERJ, embora sob a intervenção do gen. Jayme Ribeiro da Graça.
À frente do prédio, sempre um fusquinha com um giroflex, as temíveis ‘Joaninhas’, paranoia do povo, com suas revistas nos cabelos e nos livros. Foi recolhida até a Nova História da Música do Carpeaux, de capa vermelha. E valia a instrução policial: dois, ok, prestar atenção, três, podia ser plano, abordar! Nessa altura, meu pai teve a visita de um agente do SNI, que viera em seu encalço. Lá embaixo, deram uma volta e ele ouviu que, quando no Palácio, arrumara um emprego no IAPETEC para a filha do agente. O sujeito disse que iria contornar e que subisse, pois minha mãe devia estar nervosíssima.
Meu pai convidou-me para um chopp a dois. Desvendou quem era meu ídolo de então, Che Guevara, a quem ele havia aturado durante horas fazendo sala para JK. Mais informações, a de que os chefões da guerrilha estavam loucos para cooptar jovens quadros para servirem de bucha de canhão, a exemplo do Gabeira, mais velho do que eu. Aí encerrei minha “carreira”. Foi uma ducha de água fria. Naquela conversa, olhos nos olhos, decidi me afastar da leitura política e me dedicar à minha arte, a música. Estudava muito, tive a sorte de ter grandes professores, como Ladislav Bálek, solista da Sinfônica de Praga. Consegui uma aprovação nos Estados Unidos, e lá fui eu em 1977 para Boston, onde estudei com o grande Edwin Barker e com o compositor McKinley. Casado, já estava me acomodando nos EUA. Fui convidado para ajudar a reorganizar uma antiga grande orquestra no Brasil. “Um belíssimo salário”, disse minha mãe. Recebi, como sempre, uma revista enrolada depois de lida, para eu ficar a par do que se passava no país. Na capa, à frente de uma multidão, como o pôster do filme “Sacco e Vanzetti”, Lula comandava os manifestantes. Eu, ainda com as costas lenhadas pela vida no Brasil, disse para mim mesmo: ‘esses caras estão loucos, morrerão todos!’. Mas eram os novos tempos surgindo.
Em 1982, vim de mala e cuia para o novo emprego. Chegando, nove baús no Cais do Porto, soube que o projeto inteiro ruíra. Como eu estava preparado, não me preocupei muito. Inicialmente, fui para Campinas, onde fiquei 2 anos. Depois, Osesp. Vi o começo do fim da ditadura, com a eleição de Tancredo e a inevitável posse de Sarney. Farsa, mas logo chegaríamos ao voto direto. Essa epopeia durou mais de 20 anos, e não meses como disse Castelo Branco, disfarçando ou não. Sucederam-se, desde 1964, os Atos Institucionais. Oito dias depois do golpe,  o AI-1 simplesmente delegou ao ‘comando’ o poder de alterar a Constituição, entre outros. Foram cortando os poderes, até que aquele fatídico AI-5 acabou com o país.  Não havia mais nada.
Figueiredo e seu bom amigo Abi-Ackel, contrabandista de joias
Os militares – e não as fardas, que prezo muito – enriqueceram, a exemplo do próprio Castelo, cel. Andreazza, autor da ponte Rio-Niterói e da Transamazônica, superfaturando aos montes todas as compras (não havia a lei de licitação de hoje, 8.666 - aliás, como disse o Getúlio, 'a lei, ora, a lei'). Abi-Ackel, homem forte de Figueiredo, tinha um comércio de esmeraldas em Miami. Um preposto, que levava mais uma remessa de joias parta o escritório de Ackel em Miami, foi preso na alfândega americana com o equivalente a 20 milhões de dólares em gemas na época. 

O eng° José Jobim, que trabalhou na Itaipu, revelou que contaria tudo sobre os US 30 bi, superfaturadíssimos, da obra. Eram tempos de Figueiredo, e hoje se sabe que na verdade, como vários outros, Jobim foi 'suicidado' pendurado em  uma árvore, fato recentemente confirmado. À dona de uma farmácia disse que estava sendo sequestrado, em um bilhete no balcão.
Eliezer Batista, “dono” das mineradoras, embora malvisto desde o Jango, teve Castelo que lhe afagou com a Cemig. Eliezer deixou para seu filho Eike uma das maiores fortunas do mundo. Ao gen. Golbery coube a fenomenal Dow Chemical. A corrupção grassava por todos os cantos, mas com Imprensa, Judiciário e Legislativo manietados - quando existiam -, era benevolente com os piores alcaguetes transformados em agentes, achacando, extorquindo, como aconteceu comigo em um acidente de automóvel que teve o azar de ser protagonizado pela filha de 19 anos de um “extra” do SNI. Meu pai, sob ameaça de extorsão, buscou nos cartórios do Fórum, onde trabalhava, o nome do agente. 20 ações de roubo dormindo em uma gaveta. Esse foi o contragolpe. A questão se encerraria em juízo.

[Usei para título o livro do James Joyce, como faço frequentemente até para abrir a mente dos leitores]

sábado, 6 de janeiro de 2018

TRAPALHADAS POLÍTICAS NA MÚSICA BRASILEIRA - I

Cultura não era preocupação para um Governador da Paraíba do passado. Revoltado com seu antecessor Tarcísio Burity, dos anos 80, que ado­rava música de concerto, Wilson Braga, recém-empossado naquela capitania, indagado sobre a manutenção da Orquestra Sinfônica respondeu que não era muito chegado ao ramo, prefereria criar uma "san­fônica". Para completar, teria dito, na época: "Num dô dois conto pra tócador di bumbo!" Burity, o mecenas paraibano, foi alvo de tiros pelo seu sucessor em um restaurante de João Pessoa em 1994. Sobreviveu. Sanfona versus sinfonia, no fundo palavras tão afins, para nós, músicos, viraram bandeira de guerra na política dos coronéis.
Inácio de Loyola
Por volta de 1968/69, éramos estudantes secun­daristas no Rio de Janeiro, no Colégio Santo Inácio. Em período de violenta repressão e censura, organizamos um festival de música estudantil - coisa inédita para a época, especialmente pela repercussão que o evento obteve junto à imprensa. O regime de exceção havia con­seguido coisas impossíveis: escolados na doutrina jesuíta - que tinha entre seus iniciados de Santo Inácio de Loyola ao líder Fidel Castro, levou-nos a discutir posições nos instrumentos musicais e na política. Na verdade, continuaríamos uma tradição musical, já que os também inacianos Mário Henrique Simonsen (ex-ministro, barítono e crítico bis­sexto) e Edu Lobo (1943), entre outros, já haviam aberto o caminho no colégio.
Cazuza
Formaram-se grupos, festivais, e de nossas fileiras brotaram o violonista Marcos Farina, do conjunto de choro Galo Preto, Ricardo Medeiros, contrabaixista e arranjador, Ricardo Chaves, guitarrista radicado desde sempre nos Estados Unidos, o grupo O Terço e um certo Luís Maurício Pragana dos Santos (de minha sala, do mesmo dia/mês/ano de meu nascimento), de quem falarei logo adiante, além do Cazuza, um pouco mais novo do que nós, e Lobão. Maurício Villela tornou-se jornalista, o violonista Marcos Caramuru tornou-se diplomata e foi assessor de Zélia Cardoso de Mello e Pedro Malan, enquanto o compositor Luis Eduardo Soares, o “Motor”, tornou-se cientista político e depois todo-poderoso na Secretaria de Segurança de Anthony Garotinho, Governador do Rio empossado em 1999 (querendo transformar a segurança, Luís virou escândalo ao ter seus telefones grampea­dos por setores da polícia. Fugiu para os EUA). Isso foi parte de minha rica vida no Santo Inácio, com meus colegas a quem também devo muito. 
De volta dos Estados Unidos, em 1982, reencon­trei Luís Maurício Pragana no bondinho de Santa Teresa, bairro pós-hippie como o Greenwich Village. Após um curto papo, Luis pareceu indignado quando lhe perguntei se ainda fazia música: é que eu não sabia que ele havia largado seu conjunto Veludo Elétrico e se ungido Lulu Santos, e menos ainda que seus temas românticos abriam a novela das oito. Mesmo comercial, seu conhecimento musical dos Beatles levou a um disco-music que não era bate-estaca, era coisa de qualidade. Filho de almirante, no colégio era meio caído pela direita. Hoje, é vermelhaço (ou escarlate, casou-se com a Scarlet Moon).
Lincoln, no Geetysburgh
A orientação do colégio era rígida, na mais pura tradição jesuíta. Decorávamos "Última flor do Lácio, incul­ta e bela, és a um tempo esplendor e sepultura", o dis­curso de Gettisburgh, do Lincoln ("four scores and seven years ago...") e as capitais e rios do mundo todo. Foram-se países e capitais e uma ou outra catarata, mas ficaram os ensinamentos. Assistíamos à missa, na última aula sexta-feira, mas se quiséssemos poderíamos ir para salões enormes, em silêncio e com um livro na frente o dobro do tempo da celebração. Às vezes, íamos à Igreja, e quando o padre se virava para o altar, levantando a hóstia sagrada, fugíamos pelos fundos.
No colégio representávamos Becket, líamos Marcuse, Althusser, Reich e Leandro Konder, mesmo sem entender muita coisa. E ouvíamos Caetano, Gil, Chico e Vandré. A música era uma válvula de escape, uma forma de passarmos nossos recados. E a censura prévia fazia cortes idiotas, como no meu "um grito vivo de verdade". Seria a frase um chamado à guerrilha? Eram do agrado do poder Os Incríveis, com " eu te amo, meu Brasil, eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco e azul-anil" (nós cantávamos: "E quem não ama vai..."). Há que se reconhecer, entretanto, que a ditadura deixou espaço para nossa criatividade e verdadeira especialização em criar mensagens subliminares, de duplo e até triplo sen­tido. A poesia era a metáfora metrificada!
Antigo prédio da Fefierj (hoje Uni-Rio), ex-UNE, depois derrubado
Nos anos setenta, fora nomeado interven­tor no Instituto Villa-Lobos da FEFIERJ do Rio de Janeiro (hoje UNIRIO) o General Jaime Ribeiro da Graça. Escolado na ‘inteligência’ do SNI, nosso diretor era versado em dialetos de subversivos e drogados (que na época, como se dizia, eram armas do “plano de Moscou para cooptar a juventude”). Graça ministrava cursos na Escola Superior de Guerra e havia publicado um ou dois livros com exemplos de diálogos entre bichos-grilos: “Oi, cara, tá numa boa”? Respondia o outro: “Tô numa pior, gente boa, preciso descolar algum”. E ainda se fazia música com um barulho desses.

O prédio da FEFIERJ era o da então proscrita UNE, símbolo proibido e posteriormente demolido pelo Governo. O edifício parecia simbolizar uma ameaça de recrutamento da sadia juventude carioca para as hostes soviéticas. O general Graça mandava revistar frequentemente os alunos em suas calças, meias e cabelos; os policiais à porta da escola buscavam baseados de maconha ou, se dessem mais sorte, livros de capa vermelha, mesmo que fosse a História da Música do Carpeaux. Seguiam à risca a máxima do filme Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri, com interpretação fabulosa do Gian Maria Volonté: Repressão é Civilização (repressione è civiltà).

domingo, 27 de novembro de 2016

GÈZA KISZELY

Figura musical que todos deveriam ter conhecido

O povo judeu teve entre suas grandes habilidades, em sua trajetória nômade, o comércio e a música. Quanto ao primeiro, bastaria lembrar que, fincados na Holanda, de lá foram para os EUA – “Uma Nação de Imigrantes” título de um dos livros de John Kennedy, quer Trump goste ou não. Lá, fundaram New Amsterdam (1624), em homenagem à capital holandesa, depois New York, após a invasão inglesa (1664), e hoje é o centro do negócios do mundo (pois teriam ficado no Brasil, com Nassau, se não fossem expulsos).

Outra habilidade, a música, tem uma lista interminável de estrelas, em que predominam instrumentos de arco - o violoncelo de minha filha, que mora em Londres, pertenceu a Paul Wisa, que fugiu da Alemanha e dos horrores nazistas, a pedido do pai, levando consigo naquele cello as economias da família, à procura de um lugar no mundo com o instrumento a tiracolo. Nos campos de concentração os violinos eram tolerados porque, apesar das atrocidades, os soldados eram grandes apreciadores de música clássica, inclusive o próprio Hitler. Com isso, ao lograrem escapar ou serem libertados, às vezes conseguiam levar consigo seus violinos. A maioria dos grandes virtuoses do instrumento, e mais ainda depois da II Guerra, é de origem judaica: de Milstein a Heifetz, de Perlman a Zucherman.

Antigo prédio da Fefierj
No Brasil, para onde a família Kiszely imigrou, o pequeno Gèza era conhecido como George, nome mais fácil. Foi um violista e violinista da mão cheia, tocou em muitas orquestras brasileiras, inclusive o Municipal de SP. Eu o conheci em 1972, quando fui estudar na Fefierj, hoje UniRio, onde ele era professor de História da Música e História da Arte. O diretor da Fefierj era um general, interventor nomeado nos macabros tempos do Médici. Pois foi em uma aula do Kiszely, com slides projetando instrumentos indígenas, que vi mais um exemplo da ignorância que nos assolava.

Abre a porta e entra o general Jayme Ribeiro da Graça, o diretor – hoje atitude inaceitável, intromissão dessas em sala de professor! -, que em determinado momento se levantou e começou um discurso bizarro, dizendo que flautas de osso eram coisa pré-histórica, pois a arte evoluiu (sic), hoje havia instrumentos como as flautas de prata, “infinitamente superiores”, e por aí vai.

O mundo deu uma volta, retornei do exterior anos depois, e, por ironia do destino, em 1989 tornei-me diretor da Escola Municipal de Música, onde Kiszely era professor. Falava, e como falava. Um dia lhe perguntei como vai, como está a vida, esperando uma breve resposta. Ouvi “minha mãe, quando veio da Hungria, nos pedia para vender pães para ajudar no sustento”, e daí desenrolava a saga de sua vida. Orgulhoso de sua excepcional memória, chegava a detalhes absurdos. Certa vez, eu ia fazer uma reunião com alguns professores, e ele contou para a excelente Laís Kauffman, já com certa idade mas, claro, vaidosa, que a viu tocando ainda criança, com um lacinho de tafetá, castiçais do piano acesos, ela com uns doze anos - e isso foi em mil novecentos e... disse, com precisão. A memória prodigiosa o traiu: Laís levantou-se, furiosa, xingou Kiszely e foi embora.

Sede da velha Oficinas Três Rios
Lecionamos juntos nas Oficinas Três Rios, embrião da ULM-Tom Jobim, hoje Emesp, co-irmã do Conservatório de Tatuí. Pegávamos o metrô, na saída, e certa vez Kiszely convidou-me para tomar alguns drinques. Paramos em um bar, e ele também pediu salgadinhos. O tempo passou e a certa altura a conta já estava salgadinha como o torresmo. Veio a nota, e discutimos sobre o porquê de ele não querer me deixar dividi-la. Foi enfático, e naquela altura, já alegre, confidenciou-me que o fardo de ser judeu lhe era bastante pesado, por isso tinha o costume de pagar todas as contas, para que ninguém o acusasse de mão fechada. Disse que se sentia bem com essas gentilezas, o sentimento atávico de culpa lhe parecia amenizar com isso.

Casou-se em segundas núpcias com sua sereia do rio, Yara, violista, com quem formou um quarteto de cordas. Em meu segundo casamento deu-me de presente uma bela apresentação do grupo. Bufê simples, só para familiares e amigos, mas claro que foi ele quem pagou ao seu pessoal pelo mimo que me dera.

Teatro Santa Isabel, Recife
E contava tantas histórias, mas eram tantas! Uma delas logo me vem na cabeça: Ele, que chegou a morar no Recife, contou-me uma folclórica sobre um recital do lendário virtuose Jascha Heifetz – sim, ele mesmo -, em 1931. O Teatro Santa Isabel segue os padrões e gostos franceses, cultura impregnada na vida recifense. Ainda não existia ar condicionado, e como o calor era enorme certa época do ano, havia algumas aberturas na parte superior, para que o vento refrescasse um pouco a sala.

O lendário Jascha Heifetz
Pois mal Heifetz começou a tocar, um dos ilustres visitantes contumazes do teatro, um morcego, entrou por uma abertura, tirou um voo rasante do gênio do violino, que parou e gritou, em inglês mesmo, “ou eu ou o morcego”, exigindo que os ingressos fossem devolvidos. Tiraram o público, e prometeram expulsar o invasor. Uma hora depois, Heifetz e plateia estavam a postos, e o virtuose terminou o recital profissionalmente, mas seco e frio.

Anos depois, um certo violinista, catedrático da Escola Nacional de Música do Rio, foi fazer um recital no mesmo teatro e lá veio um morcego em rasante. O solista, aproveitando a deixa do mito Heifetz, parou e gritou: “ou eu ou o morcego”! - ao que o público, em coro, bradou “morcego, morcego”. Fim do show.
Kiszely nos deixou em 
2010, mas dos momentos mais divertidos na carreira vários passei com ele.

Violino e viola


domingo, 13 de novembro de 2016

“TEJE PRESO!”, GRITO AMARGO DE UM REGIME E SUA CORRUPÇÃO

Hélio Pellegrino
“Acorda, amor / eu tive um pesadelo agora / sonhei que tinha gente lá fora / batendo no portão, que aflição / era a dura / numa muito escura viatura...” (Chico). Nunca fui preso, mas tive medo. Levaram amigos, parentes, conhecidos. Hélio Pellegrino, amigo de meus pais, escritor, psicanalista – suas armas eram a caneta e o divã –, morava perto de casa, no Rio, e seus filhos eram nossos amigos. Hélio havia se escondido em um apartamento perto da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas caiu em emboscada.

Gen. Sílvio Frota

A esposa do Hélio, Maria Urbana, conseguiu uma audiência com o Gen. Silvio Frota, Chefe do Estado-Maior, conhecido pela sua arrogante grosseria. Tentando um afago no ego do General, Maria disse: “o senhor, como intelectual...”, ao que o Comandante chutou uma cadeira e esbravejou “intelectual não! Sou homem de ação!”

Francisco, ex-agente do SNI
Minha mãe já tinha tido seu pai, constitucionalista, preso e deportado pelo Getúlio, assim como seu avô. Mais tarde, vez do meu primo Frei Betto, em São Paulo. Para ela, ter alguém na família e amigos presos já não era novidade. Até que um dia chegou ao seu lado; o porteiro de nosso prédio no Rio chamou meu pai e disse que lá estava um sujeito, a ordem era encontrá-lo na calçada. Alertou minha mãe que parecia ter chegado a hora dele, e desceu. Um agente secreto “a caráter” o chamou para uma volta. Andando, disse a ele que havia recebido a missão de prendê-lo; conformado, meu pai falou que precisava de roupas. O sujeito disse não,  não vou levá-lo, deixando meu pai surpreso. Depois resolvo tudo, tenho como explicar, disse o policial.

Palácio do Catete, no Rio: sede da Presidência
Diante de tanta benevolência, meu pai perguntou o porquê. O agente disse: lembra aquele sujeito que ficava na portaria do Palácio do Catete? Sou eu. E continuou: minha filha estava desempregada, e eu lhe pedi ajuda para colocá-la em um emprego. O senhor logo me chamou mandando-a se apresentar no Iapetec (o extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões), e ela tomou posse no cargo. Pois eu lhe devo muito, senhor, nunca o prenderia. E foi-se, sem mais. O fantasma rondava intelectuais amigos, e prendia gente como Rita Lee, Bete Mendes e Carlos Heitor Cony, jornalista  (hoje na ABL), preso nada menos que seis vezes, e o escritor Joel Silveira, duas. Passei a peneira ideológica nos meus livros, a pedido de meu pai, mas do episódio da voz de prisão só vim a saber depois, lendo um dos seus raros livros de não-ficção, pois ele havia guardado o segredo a sete chaves.

Sede da escola de música e teatro da Fefierj
Medo tive, sim. Uma das amigas mais chegadas na PUC-RJ, Monica Tolipan, foi levada e passou 15 dias na “geladeira”, apelido da cela fria que torturava sem marcas. Voltou, despediu-se e saiu do país, vindo reaparecer muito tempo depois em Santa Maria (RS). Outra amiga, Maria Luiza, filha da professora de inglês, teve sua casa revirada e foi levada de camburão. Quem não temeria? Desde abordagens com fuzis nas ruas, recebi até ameaça do interventor da Fefierj (hoje Uni-Rio), o Gen. Jayme Ribeiro da Graça, do Serviço Nacional de Informações.  

Aquele regime de terror, para os alienados de hoje, sufocou a corrupção! Ledo engano, aquele foi o período dos maiores assaltos aos cofres públicos da história. Imprensa censurada, judiciário manietado, Congresso pro-forma ou inexistente, grassavam agentes dos serviços de “inteligência” com chantagens e achaques. Era a bandidagem oficial. 

Andreazza, no centro, com Figueiredo (esq., fardado) e Médici (dir.)
O que dizer de figuraças como o tenente-coronel Mário Andreazza, Ministro dos Transportes de Costa e Silva e de Médici, responsável por duas das maiores obras de engenharia do país, a ponte Rio-Niterói e a Rodovia Transamazônica - que continua sem ter sido concluída! -, monumentais ralos de dinheiro quando licitação era “apenas um retrato na parede”, diria o Drummond. O processo licitatório teve alguns raros decretos, mas só foi sacramentado de vez pela lei 8.666/93. E mesmo assim, como é burlado! 

Uma das usinas do monumental Projeto Jari, de Daniel Ludwig
Ministro da Justiça e mentor do regime, o Gen. Golbery, com a posse de Costa e Silva, de quem era desafeto, foi brindado com a presidência de nada menos que a poderosa Dow Chemical, colaboradora do golpe de 1964. Golbery, generoso, havia “cedido” ao americano Daniel Ludwig em 1967 uma área do tamanho do estado de Sergipe para o devastador Projeto Jari, na Amazônia, e a reboque sérios prejuízos ambientais. Foram duas enormes plataformas que foram rebocadas durante 53 dias do Japão e levadas para a Amazônia para um projeto de exploração e destruição.

Abi-Ackel e Figueiredo
O sucessor de Golbery no Ministério foi Ibrahim Abi-Ackel, que depois se envolveu em um milionário esquema de contrabando de gemas preciosas, após o preposto Mark Lewis ser preso na alfândega dos EUA com 10 (hoje 22,5) milhões  de dólares em gemas, em apenas uma de suas viagens. Sócio de empresa americana de pedras preciosas, Ackel transferiu fortuna incalculável para o exterior, mas também saiu livre, leve e solto como era de costume entre seus confrades.

Eliezer Batista e seu filho único e herdeiro, Eike
Eliezer Batista foi presidente da Vale do Rio Doce e comandante do Projeto Carajás, que envolvia estados no Norte do país, fazendo imensa fortuna com transações de alto porte. Seu filho Eike entrou no mundo do comércio de mineração com sucesso aos 24 anos, e ainda jovem chegou a ser um dos homens mais ricos do mundo. Ao Fantástico, da Globo, Eike disse que “cria riquezas do zero” (sic).

Houve ainda o estupro, mutilação e assassinato da menina Aracelli, de apenas oito anos, em 1973, por rapazolas filhos de altas autoridades (o livro “Aracelli, meu amor”, de José Louzeiro, sumiu, na época, mas hoje existe para download. Não dá nome aos bois, claro, troca locais, mas é um relato cruel). O crime dos rapazes, entre eles um futuro alto cargo na República, foi abafado, e notícias só se sabia ouvindo rádios de ondas curtas como a BBC de Londres.

Minha medalha das
Forças Internacionais
Paz, da ONU: orgulho
Hoje, nossas Forças Armadas são guardiãs da democracia e da Constituição. Não querem a volta daquele passado, pensam mais alto. Sabem que lhes cabe um papel de honra na República. Mas os jovens que hoje pedem a volta daquele terrível regime do passado como “solução” não sabem de nada, nem querem saber. Querem apenas 15 minutos de purpurina em suas fantasias.