LIVROS

LIVROS
CLIQUE SOBRE UMA DAS IMAGENS ACIMA PARA ADQUIRIR O DICIONÁRIO DIRETAMENTE DA EDITORA. AVALIAÇÃO GOOGLE BOOKS: *****

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O CARNAVAL LONGE DO TRÁFICO, DO JOGO, DA NUDEZ E NA RESSACA DA REPRESSÃO – I



Não sou, de forma alguma, um sujeito que se possa dizer carnavalesco. O único baile de carnaval a que me lembro de ter ido foi coisa de meus dezesseis, dezessete anos. Fui jurado de desfiles no Sambódromo de SP (1995) e Tatuí (2010), e confino meu conhecimento sobre o samba das escolas ao Rio de Janeiro onde morei por muitos anos, à condição de dicionarista e de apreciador dos bons sambas de enredo e marchinhas do passado.

O Mardi-Gras de New Orleans

O carnaval (do latim carne levare, suspensão da carne) é a maior festa pagã do mundo. Podemos buscar raízes há mais de 2.500 anos, na Grécia antiga, e sua passagem a festividade cristã, até o famoso carnaval de Veneza, com suas máscaras deslumbrantes. Na França, há o mardi-gras (quarta-feira gorda), e é em Nice que acontece uma das grandes festas carnavalescas (Alemanha e Bélgica também têm suas versões). Os colonizadores franceses levaram para New Orleans, nos EUA, a tradição do mardi-gras, com suas tradicionais alegorias e passos característicos. Porém, nada se compara ao carnaval brasileiro, seja em beleza ou luxo. Infelizmente, o destino, o fado do nosso carnaval é sua deturpação e encolhimento. Zeca Pagodinho, quem diria, deu sobre isso preciosos depoimentos.
Com o tráfico de drogas praticamente fora dos morros no Rio e o jogo do bicho ausente, resta às escolas o merchandising velado.  A Mangueira aderiu a uma grande multinacional de agronegócios (pela bagatela de 8 milhões), e  prestigia um setor muito próspero no Brasil: cavalos manga-larga. Estariam as escolas a salvo da insolvência? Luiz Fernando Vianna, do Instituto Moreira Salles e autor de quatro livros sobre samba, é pessimista e acha que as agremiações estão caminhando para o inevitável, a estagnação. Pelo seu raciocínio, se em 2014 os desfiles ficarem como neste ano, já está muito bom, mas a tendência é piorar.
Entrudo, por Debret
Para não perder o fio da história, pensando no futuro, nada melhor do que rever o passado. O entrudo (do latim introitus) surgiu na Idade Média e chegou ao Brasil já no princípio da colonização, trazido pelos portugueses. No final do século 19, o povo se fantasiava, embriagava-se e cheirava éter, fazendo brincadeiras às vezes violentas contra os passantes, jogando farinha, bexigas cheias d’água suja e até urina. Autoridades e famílias acionaram governos e polícias para coibir os atos de grosseria, o que acabou levando à extinção do entrudo e ao surgimento dos inocentes cordões, no início do século 20, origem do carnaval de rua.
A primeira escola de samba surgiu no bairro do Estácio (o grupo ensaiava em uma escola pública, daí o nome “escola”); a espetacularização dos desfiles começou a partir do ingresso da Rede Globo na folia, em meados da década de 1960, que passou a cobrir os desfiles – hoje, segundo o já citado Vianna, “para serem vistos de cima”, tamanha a multidão colorida de pessoas e monumentais carros alegóricos, como mostram as filmagens aéreas de TV tomadas com aquelas enormes gruas que se movimentam como parte do espetáculo.
Mas vamos pensar as escolas de samba e o próprio carnaval nos dias de hoje. O Governo comemora (e nós também) a queda de mais de 25% no número de mortos em acidentes durante a folia. A “tolerância zero ao álcool” e, novidade, aparelhos para detectar também o uso de substâncias psicoativas (como se o próprio álcool também não fosse uma), jogaram no chão o número de carnavalescos bêbados dirigindo. A solução é pedir à esposa para dirigir a fim de poder virar o caneco? Mas e se ela também gosta de beber? A imposição de Lei Seca doméstica é absurdamente machista e submissora. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário