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terça-feira, 20 de setembro de 2011

GÊNIOS, ORA, GÊNIOS

O GÊNIO DOS GÊNIOS

Pela facilidade com que vivem o dia a dia, com que compreendem seres e coisas, pelas descobertas, soluções e criações ‘de estalo’, talvez por tudo isso os gênios vivam um humor diferenciado. Pois sabe-se que era assim com certo brincalhão de nome Michelangelo Buonarroti, que achou sua estátua de Moisés tão perfeita que, conta a história, ao terminar de esculpi-la teria nela batido com uma marreta, aos gritos eufóricos de “parla!”(fala!), tamanha a perfeição da obra. Mozart fazia troças com sua genialidade, e compunha com suas obras-primas com absurda rapidez enquanto se divertia fazendo toda sorte de besteiras (como apertar as panturrilhas das moças para assustá-las), ou escrevendo cartas a Constanze Weber, sua amada esposa, com declarações malucas: “do teu Stu, Knaller Paller, Schnip-Schnap-Schnur, Schnepepperl-Snai”. E Beethoven, mesmo com seu azedume costumeiro, não perdia a chance de dizer asneiras, como “parece um bando de carneiros mortos”, referindo-se aos arbustos bem podados dos jardins de Viena.
Já Einstein, o pai da teoria da relatividade, lidava com coisas abstratas e ‘banais’ como a energia resultante da massa vezes a velocidade da luz ao quadrado, foi eternizado em uma clássica foto em que aparece com a língua inteiramente de fora, uma horrível careta. E há quem garanta que a linda (porém famosa por seus reduzidos dotes intelectuais) Marilyn Monroe teria proposto ao gênio alemão ‘produzirem’ juntos um filho, pois a criança desfrutaria da inteligência dele e da beleza dela. Coitada, ouviu como resposta um rápido e rasteiro “melhor não, já que pode nascer com a minha beleza e a sua  inteligência”
Eleazar de Carvalho, nosso maestro maior, esbanjava vivacidade, palavra que usava volta e meia. Contava seriamente sobre a cigana que, quando ele completou 50 anos de idade, previu-lhe mais 25 de vida. Na festa de aniversário de seus 75 anos, aquele enorme apartamento na Alameda Jaú repleto, o ‘Velho’ (que era como, à escondidas, os músicos carinhosamente se referiam a ele), pediu a palavra e disse que a cigana acabara de lhe mandar um fax – “as ciganas de hoje usam fax”, zombeteou -, dando-lhe outros 25 anos. Risadas. (Se estivesse vivo, Eleazar completaria 100 anos em 2012, mas Aquele que traça o destino não deu trela para a vidente). Ele era uma fonte inesgotável de anedotas inventadas na hora, o que contrastava muito com sua severa personalidade profissional.
Já Camargo Guarnieri, tietense ilustre, tinha sempre resposta pronta para tudo. “Eu não escrevi isso”, repetia, sempre que não gostava do modo de execução de alguma obra sua. Ou, já passado dos oitenta anos, perguntado sobre o segredo de sua lucidez, respondeu: “mulheres, vinho e mulheres” – o maestro não podia ver um rabo de saia.
Presenciei um outro caso pitoresco, do qual, apesar de muito criança na época, ainda guardo lembrança vaga do momento. Meu pai tinha uma Kombi, único automóvel que no passado lhe permitia transportar nossa família de seis pessoas. Estávamos no carro parados antes da faixa de pedestres, na Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, em algum dia de 1961, quando vinha atravessando o ilustre filósofo francês Jean-Paul Sartre, braço dado com sua esposa, Simone de Beauvoir, também pensadora e vanguarda do feminismo. Sartre veio para o lançamento de seu livro “Furacão sobre Cuba”, acerca da Revolução de Fidel, que ocorrera quase dois anos antes, e que, ainda não declarada comunista, era assunto no mundo inteiro. Meu pai exclamou: “prestem atenção, vou assustar um gênio!”, e arrancou de leve com o carro, fazendo que ia atropelar o célebre casal. Sartre deu um pulo para trás e gritou “merde, brésilien, vous êtes completement fous. Va te faire foutre!”, obviamente repetido e traduzido por meu pai uns bons anos depois (deixo o significado em português do comentário sartriano à imaginação do leitor). Ele logo abriu suas gargalhadas, percebendo a brincadeira. Dizem que conversar com ele era irritante, pois parecia invadir o interior das pessoas de forma meio debochada.
Por isso, se estiver na frente de um gênio, não se aborreça se ele parecer estar rindo com a sua cara. É que eles são assim mesmo, decifram o mundo com tanta simplicidade, criam tudo e resolvem tantos teoremas em frações de tempo que tudo ao seu redor parece mesmo muito engraçado. Ah, e muito cuidado ao fingir que vai atropelá-los, por favor. Eles são muito raros.








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