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sábado, 3 de setembro de 2011

O ESTRANGULADOR DE BOSTON

Nome: Albert De Salvo. Veredito: Culpado.
Mas pode ter sido engano
(Em ‘O Progresso’ de sábado, 3 de setembro)

Ao me mudar para os EUA, fui inicialmente morar em Brighton, uma daquelas pacatas vilazinhas do entorno de Boston. Como precisava economizar, e queria me ver longe daquele ‘gueto’ brasileiro – pretendia dominar a língua inglesa -, parti para a região central da cidade, mais precisamente para a Rua Gainsborough (foto acima), a mesma da universidade (New England) na qual estudava. Essa rua dá para os fundos do afamado Boston Symphony Hall (palco de uma das mais importantes orquestras do mundo) e faz esquina com a Huntington Avenue (foto abaixo), lateral da mesma sala de concertos.
Desde o início, ouvia de colegas piadas que eu não entendia, como “cuidado com o estrangulador”, “mataram mais uma hoje?” Quando pedi explicação para aquele ‘bullying’, contaram-me algo em que não podia acreditar: no prédio 77, geminado ao meu (de no 79), 17 anos antes, residira e cometera seu primeiro assassinato o famoso ‘estrangulador de Boston’.
Junho de 1962. Aquela rua bem ao estilo inglês, prédios idênticos de tijolo aparente e janelas ‘baywindow’, era ideal para estudantes e trabalhadores modestos, além de pessoas sozinhas, pois os apartamentos de quarto e cozinha mal comportavam duas pessoas. No dia 14, às 19h49, os oficiais Benson e Joyce, cumprindo determinação da Central de Polícia, adentram o apartamento de Anna Slesers, 55, no primeiro andar do prédio de número 77. Slesers fora encontrada morta, enforcada com o cinto de seu roupão de banho pendurado na janela. O policial Juris, sentado, lamentava o ‘suicídio’, quando seu colega Mellon exclamou: “Está louco? Você chama isso de suicídio?”. Chegaram a fazer uma aposta. Mellon levou: Slesers havia sido brutalmente assassinada. Sem motivo aparente, sem estupro, sem pistas.
Duas semanas depois, no dia 30 de junho, desta vez na Commonwealth Ave (no 1640), que passa na frente do mesmo Symphony Hall, é encontrada nas mesmas condições a Sra. Nina Nichols, 68. No mesmo dia, também, Helen Blake, 65, em Lynn. Sem motivo aparente, sem estupro, sem pistas. A cidade, antes pacata e ordeira, recolheu-se, entorpecida pelo pânico. Senhoras levavam gás pimenta e pequenos objetos perfurantes nas bolsas, denunciavam-se assassinos potenciais aqui e ali. Diferentemente do famoso ‘Jack, o estripador’ de Londres (1888), que violentava, assassinava e mutilava prostitutas - deixando pistas para com sua inteligência desafiar a Polícia -, o de Boston tinha um perfil diferente: a quinta vítima da série, Sophie Clark, tinha apenas 20 anos, e as duas seguintes 23, quebrando o ‘padrão’, típico do comportamento de assassinos seriais. A última das 13 vítimas foi Mary Brown, 69, 8 meses depois. Isso desfez a tese de que se tratava de um ‘estrangulador de idosas’.
Um certo Albert De Salvo tinha passagens policiais como maníaco: fora  fichado como “Homem-medida” (gostava de usar uma fita para tirar medidas de corpos femininos, como um costureiro). Tinha também fetiche por dedos dos pés de mulheres, e levava uma lanterna portátil para ‘espiar’ sandálias nos cinemas da cidade.
Preso como principal suspeito, De Salvo logo confessou todos os assassinatos. Seu advogado, Mr. Bailey, requereu internação psiquiátrica no Hospital Estadual de Bridgewater, mas o próprio réu mudou de ideia, preferindo enfrentar o Júri, e passou a negar a autoria dos crimes. Foi preso, fugiu, foi recapturado e trancado em Walpole, presídio de segurança máxima, onde acabou assassinado em 1971.
Em 2001, com novas técnicas de identificação por DNA, o corpo de Mary Sullivan, a 11ª vítima, foi exumado, e todos os vestígios encontrados remetiam a dois homens, mas nenhum deles era De Salvo. Outras investigações se seguiram, mas com certeza absoluta sabia-se apenas que De Salvo fora um psicopata. Casey Shermann concluiu: “se De Salvo não matou Mary Sullivan, embora tenha confessado o crime com terríveis detalhes, ele não matou nenhuma dessas mulheres”.
(Em tempo: o ‘Estadão’ de 1º de setembro publicou uma pequena nota informando que, em Londres, com técnicas e softwares avançados, foi traçado o retrato falado de ‘Jack, o estripador’, a partir de descrições e depoimentos arquivados. Só que os crimes ocorreram em 1888, ou seja, há 123 anos! É, a Scotland Yard não que deixar esse  caso insepulto para a história).

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