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sábado, 14 de julho de 2012

II - NATUREZAS MORTAS : na MPB e na parceria Vinicius/Bach.


“Eu vejo esses peixes e vou de coração / eu vejo essas matas e vou de coração / à natureza...”, cantou Milton Nascimento em seu “Milagre dos Peixes” – milagre em que ele, que ama seus amigos, vê esses peixes e os dá de coração. Vai, voa, “Sabiá”! Lamenta a canção de exílio composta por Jobim e Chico: “... vou deitar à sombra de uma palmeira / que já não há / colher a flor / que já não dá...”. É de Chico também “Passaredo”: “Ei pintassilgo, oi pintarroxo, melro, uirapuru / Ai, chega e vira / engole-vento, saíra e inhambu / foge asa branca, vai, patativa.../ o homem vem aí”, alertando as criancinhas aladas, os passarinhos, para o perigo iminente do avanço do bicho-homem predador. A dupla Sá e Guarabyra, na bela “Sobracinho”, já alertava: “O homem chega e já desfaz a natureza / tira gente, põe represa / (...) dá no coração / o medo que algum dia / o mar também vire sertão”.
Vinicius de Morais
Flertando com os clássicos, Vinicius de Morais criou um poema muito feliz, “Rancho das Flores”, sobre a Cantata 147 de Bach, uma letra perfeita que apenas raríssimos poetas no mundo conseguiriam fazer para músicas já eternizadas: “Entre as prendas com que a natureza / alegrou este mundo onde há tanta tristeza / a beleza das flores realça em primeiro lugar/ é o milagre do aroma florido /  mais lindo que todas as graças do céu / e até mesmo do mar...”. 
A singeleza da letra entoada com a melodia, casamento da simplicidade poética de Vinicius com a complexidade da obra de Bach, coral cujas quatro vozes foram bordadas com independência e harmonia incomparáveis. Parceria entre séculos que revela a enorme sabedoria do mestre de Leipzig e a eterna juventude do carioca (“que não seja eterna posto que chama, mas que seja infinita enquanto dure” diria o “Poetinha”, Vinicius).
Um momento de rara felicidade poética ao unir as flores da natureza à melodia do coral “Jesus, Alegria dos Homens” ("Jesus, bleibet meine Freude"). É o enlace perfeito entre a travessa moderna poesia brasileira e uma obra religiosa alemã composta perto de três séculos antes.

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