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sábado, 21 de julho de 2012

V - NAS VEREDAS DA CRIAÇÃO: música e literatura. A fluidez mozartiana de Villani-Côrtes e o trabalho braçal.

O que podemos concluir, no meio de todas essas diferenças no ofício de criar? Que talvez haja inspiração para os que acreditam nela, mercê, claro, do trabalho de artesão, que é o de organizar e bordar as ideias. A música clássica, até perto do final do século 19, calcava-se sobre a estrutura da apresentação do tema, contratema, desenvolvimento, recapitulação ou reexposição e final, conhecido pela palavra italiana ‘coda’ (cauda).
Um romance construído sobre as boas formas clássicas guarda sérias cumplicidades com a música: as ideias de tema, desenvolvimento, desfecho e fim estão sempre presentes. E as semelhanças não param aí: romance e sinfonia, capítulo e movimento, e dentro de cada um deles repetindo-se em escala menor quase a mesma forma da obra completa. Em ambas as artes, seja nas frases musicais ou nas do texto literário, há pontuações e acentuações, respirações, ritmos, sílabas e finalmente letras ou notas, vogais e consoantes.
Faço esta reflexão sobre minha prazerosa colaboração semanal com artigos para este espaço. Mas qual será o assunto? Às vezes ele me surge na frente, em outras flutuou em sonhos, ou surgiu de algum fato real ou imaginário, tanto faz. Na hora certa, sento-me e escrevo tudo de uma só vez, como o músico que improvisa uma peça em seu instrumento. A partir disso, desenvolvo e vou corrigindo, contornando e moldando o rascunho como fosse argila, para dar-lhe forma. Claro, há breves pesquisas de nomes, datas, pormenores. Trabalho braçal.
Fluidez de verdade tem nosso amigo octagenário Villani-Côrtes (1930): senta-se ao piano e pede a alguém que pronuncie seu nome completo, como Alice Magalhães Freitas da Silva Couto, por exemplo. Ele aproveita os sons e o ritmo das notas e das sílabas do nome, expondo-o como tema musical, que ao piano desenvolve, recapitula para afinal concluir. A maravilha de ouvi-lo fazer esta brincadeira é ver surgir no ar uma partitura extremamente complexa (que nunca foi escrita!) e vai-se perder no espaço após tocada a última nota. Uma vez proposta a ideia, a Villani basta desenvolvê-la livremente e pronto. Eu trabalhava metodicamente quando compunha, e continuo a fazê-lo quando escrevo meus textos. Portanto, modestamente, fico com meu pai e outros tantos, com as recorrentes “ideias súbitas” e muita, muita carpintaria.
[Veja e ouça, abaixo, “Canção de Carolina”, de Villani-Côrtes e Júlio Bellodi, com Villani ao piano e Efigênia Côrtes, soprano].

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